Aos 92 anos, Regina Panizzi lembra os tempos de
escola
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Nesta segunda-feira se comemora o Dia do Professor.
Prestígio, respeito, status social e econômico foram atributos que, por décadas,
caracterizaram a profissão. Mas se particularidades como estas se distanciaram
do perfil do professor contemporâneo, é bem verdade que outras, como dedicação,
criatividade e gosto pelo ato de ensinar ainda se mantêm em muitos
profissionais, resistindo a adversidades da atual conjuntura.
Aos 92
anos, 30 deles dedicados ao Magistério, Regina Pivato Panizzi é prova - viva e
muito disposta - de que todo o trabalho junto às turmas de alfabetização lhe fez
muito bem e integra suas melhores lembranças. Natural de Gaurama, quando ainda
era distrito de Erechim, Regina começou a docência por volta dos 20 anos, na
rede pública municipal. Dificuldades com estrutura física e recursos materiais e
humanos fizeram parte da trajetória profissional, onde, em lugares mais
distantes do centro urbano, o professor era docente, diretor, secretário e
cuidava da limpeza ao mesmo tempo. Também, em alguns casos, com falta de sala de
aula, três turnos foram a solução para atender a todos os que precisavam de
escola pública na região.
Formada pela Escola Complementar, já que só
Porto Alegre tinha Curso Normal para formar Professor Primário, Regina assinala
que o Ensino era de muita qualidade e os professores saíam com grande
competência para ensinar. Depois de formada, ela atuou na periferia de Erechim,
na rede pública municipal; e, mais tarde, passou em concurso estadual,
lecionando em escolas da rede. "Quem começava, ia para as escolas mais distantes
do centro da cidade", lembra. Além de trabalhar na periferia de Passo Fundo,
Regina teve experiência interessante em Marcelino Ramos, junto à comunidade
alemã, com filhos de colonos, que tinham dificuldade de integração: "Eram os
alemães (ou descendentes) e os 'brasileiros' (como chamavam os demais)". Regina
recorda que, neste tempo, foi chamada na localidade para ativar a escola, que
perdia muitos alunos, por evasão e pouca assiduidade. Assim, ela e colegas iam
em casas de alunos, realizavam reuniões com pais e davam aulas extras, até em
suas casas ou nas das crianças, quando era preciso.
"A maioria das
crianças entravam na escola sem saber, sequer, pegar no lápis; não conheciam
letra ou número. Mas, na Primavera, o maior prêmio era ver a turma lendo",
revela satisfeita. Era comum que uma professora lecionasse, durante anos, numa
determinada série, por isso, às vezes, se dizia: "Se ele passar, vai para turma
da professora Zoca (por exemplo)". Os professores, em suas turmas, davam todas
as aulas especializadas, como artes, recreação, religião, moral e cívica, música
e economia doméstica. Porém, Regina aponta que o professor era bem remunerado,
tanto que, ao se casar, podia se ouvir o comentário: "Aquele deu o golpe do baú;
casou-se com professora nomeada".
Brilho no olho para
ensinar
Quando se compara o professor atual ao de tempos atrás, é
comum destacar que havia mais respeito e melhores salários e nível de Ensino.
Mas também se percebe que, até hoje, o brilho no olho de quem ensina é especial,
na opinião de Regina Pivato Panizzi. Aos 92 anos, a mãe de Wrana, ex-reitora da
Ufrgs, conhece professores de várias décadas. Ela acredita em perdas e ganhos na
Educação e que, em qualquer tempo, "é preciso gostar do que faz para ser um bom
professor".
As turmas tinham muitos alunos estudando fora da faixa
etária; o teste ABC selecionava as classes de alfabetização; a aula tinha
cartilha, folha mimeografa (mais tarde) e tema; e havia reunião mensal com pais,
que eram autoridade junto aos filhos. "Sempre fiz o que gostei, até me
aposentar. Castigo físico, jamais. Colocava perto, cativava, conversava,
conquistava o aluno com carinho, amizade e vendo como 'chegar' em cada um",
revela Regina ao constatar que, ao reencontrar ex-alunos, sempre foi recebida
com afeto e gratidão.
Fonte: CPC
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