segunda-feira, 1 de julho de 2013

TURISMO


Turistas aprovam país, mas criticam organização da Copa das Confederações

Atualizado em 1 de julho, 2013 - 05:52 (Brasília) 08:52 GMT
O estudante britânico Jack Carbutt (Rogerio Wassermann - BBC Brasil)

Britânico Jack Carbutt se queixou da escassez de pessoas que falassem inglês

País aprovado, organização nem tanto. Ouvidos pela BBC Brasil, turistas estrangeiros que vieram ao Brasil para a Copa das Confederações elogiaram o calor da acolhida pelo povo brasileiro, mas reclamaram do reduzido número de brasileiros que dominam o inglês, da segurança no país e da falta de informações para os visitantes.

"O sistema de transporte funcionou bem, mas é bem difícil encontrar alguém que fale a nossa língua", disse o estudante britânico Jack Carbutt, de 19 anos, ao chegar ao estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, antes da final deste domingo.

Após viajar pelo país por seis semanas, Carbutt disse sair do país com uma imagem positiva do Brasil e afirma que recomendaria a outros turistas que venham para a Copa do Mundo no ano que vem, apesar de ter sofrido com a falta de segurança. "Em Natal, roubaram meu passaporte e o celular e o cartão de crédito do meu amigo", contou.

Ele se disse também assustado com a segurança montada em torno dos estádios para evitar que os protestos populares chegassem ao local. "Assusta ver tantos policiais e tantas armas juntas. Nunca veríamos isso na Grã-Bretanha", disse ele.

A dificuldade em encontrar quem falasse inglês também foi a queixa do diplomata japonês Satoshi Endo, de 44 anos, que esteve no estádio Mané Garrincha, em Brasília, para assistir ao confronto entre Brasil e Japão na abertura da competição, no dia 15.

"Para quem não fala português, é difícil se virar", disse. "Acredito que a organização ainda precisa melhorar para a Copa", disse.

O publicitário Hiroki Takahashi, de 41 anos, que também esteve na mesma partida, disse ter achado o país mais seguro do que imaginava. Morador de Tóquio, ele diz já pensar em voltar para a Copa do Mundo no ano que vem. "Os brasileiros gostam bastante dos japoneses, nos sentimos em casa", afirmou.

O mesmo elogio pela acolhida calorosa foi feito pelo comerciante mexicano Amancio Vilchis, de 51 anos. "As pessoas são muito amáveis, mas a organização está deixando a desejar", afirmou, quando se dirigia ao estádio do Castelão, em Fortaleza, para a partida entre a seleção de seu país e a brasileira, no dia 19.

Mexicano Amancio Vilchis (Rogerio Wassermann - BBC Brasil)

Mexicano Amancio Vilchis disse ter enfrentado problemas no aeroporto

Ele contou ter esperado várias horas em uma fila no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, para retirar seus ingressos para os jogos. Além disso, disse ter perdido seu voo do Rio para Fortaleza por falta de informações no aeroporto.

"Não creio que voltarei para a Copa do Mundo no ano que vem", afirmou Vilchis, que esteve também no último mundial, em 2010, na África do Sul. "Lá também houve problemas de organização, acho que no Brasil vai acontecer a mesma coisa", disse.

O também mexicano Alfonso Torres, de 67 anos, que viu três partidas da Copa das Confederações em Belo Horizonte e duas no Rio de Janeiro, disse ter se decepcionado com a falta de organização e os problemas que enfrentou.

Entre os problemas citados por ele está a falta de táxis para deixar o Mineirão após a partida da última quarta-feira, entre Brasil e Uruguai, o que o levou a caminhar por mais de uma hora após a partida para tentar encontrar um veículo que o levasse de volta ao seu hotel, no centro de Belo Horizonte.

Irmãos espanhois Jesús e Alberto de Juan Blanco sentiram medo dos protestos de rua

"Pensava em voltar no ano que vem para a Copa do Mundo, mas saí muito decepcionado", disse.

As opiniões ouvidas pela BBC Brasil condizem com os resultados preliminares de uma pesquisa preparada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) a pedido do Ministério do Turismo.

Segundo as entrevistas já tabuladas pela pesquisa, que ouviu torcedores nos estádios e também turistas nos aeroportos das cidades-sede, 95,3% dizem aprovar os estádios de um modo geral, mas apenas 61,5% aprovam os transportes para o estádio.

No quesito do atendimento ao turista, 91,5% dos entrevistados disseram aprovar os restaurantes e 86,2% aprovaram a vida noturna nas cidades-sede, mas apenas 56,6% avaliaram positivamente o atendimento em seu idioma.

 

As manifestações populares que marcaram as duas semanas de disputa da Copa das Confederações não foram um problema para a maioria dos turistas consultados pela BBC Brasil.

Os irmãos espanhois Jesús e Alberto de Juan Blanco, de 48 e 39 anos, respectivamente, contaram ter ficado inicialmente com temor sobre os protestos, mas disseram que decidiram vir especialmente da Espanha para ver a final no Maracanã.

Rogerio Wassermann - BBC Brasil

Rosa Maria Rincón disse ter se surpreendido positivamente com o Brasil

"A situação está mais tranquila do que parecia antes. De qualquer maneira, viemos cedo para chegar ao estádio antes dos manifestantes", disse Jesús, aproveitando para tirar fotos com o irmão e amigos em frente a um "caveirão" da Polícia Militar – o temido veículo blindado usado em operações especiais, principalmente nos morros onde estão comunidades pobres.

A empresária colombiana Rosa Maria Rincón, de 44 anos, que foi ao Maracanã com oito integrantes da família para assistir à partida entre Brasil e Espanha, também disse ter se surpreendido positivamente ao chegar ao país.

"Estávamos um pouco assustados com as notícias que tínhamos sobre as manifestações, mas tudo parece muito tranquilo", disse ela, que chegou ao Rio de Janeiro no sábado, de férias, e aproveitou para assistir a final da Copa das Confederações.

 

Fonte: bbc

A HISTÓRIA SÓ COMEÇOU...


Fukuyama diz que protestos no Brasil resultam de 'nova classe média'

Atualizado em 30 de junho, 2013 - 13:30 (Brasília) 16:30 GMT
Foto: Reuters

Protestos no Brasil: para Fukyama, há conexão com Primavera Áarbe

Em artigo publicado no Wall Street Journal, o cientista político americano Francis Fukuyama afirma que nada nas recentes manifestações no Brasil - que ele diz serem resultantes do surgimento da nova classe-média brasileira - sugere que haverá mudanças duradouras. E que manifestantes têm "como desafio evitar cooptação ou se vender ao sistema"

Fukuyama ficou conhecido pelo livro "O Fim da História e o Último Homem" ("The End of the History and the Last Man", 1992), no qual afirmava que a democracia liberal ocidental seria o modelo definitivo da evolução socio-cultural da Humanidade e forma final de governo. Ele mais tarde, reformaria o próprio conceito. O cientista político também é conhecido por suas colaborações com os conservadores norte americanos, em especial os presidentes Ronald Reagan e George W. Bush.

No artigo entitulado "A Revolução da Classe Média", Fukuyama afirma que o que conecta os recentes protestos no Brasil, na Turquia, nos países que foram cenário da chamada Primavera Árabe ou até mesmo na China é "o crescimento de uma nova classe média global".

"Em todos os lugares onde emerge, a classe média moderna causa fermentação política, mas raramente foi capaz de, por si mesma, trazer mudanças políticas duradouras. Nada visto ultimamente nas ruas de Istambul ou Rio de Janeiro sugere que estes casos serão uma excessão".

O filósofo afirma que em países como Turquia, Brasil, Tunísia e Egito, os protestos não foram liderados pelos pobres, mas por uma juventude com "nível educacional acima da média".

"Eles sabem usar tecnologia e as mídias sociais como o Facebook e Twitter para espalhar informação e organizar manifestações", afirma.

'Sistema corrupto'

No caso específico do Brasil, Fukuiama diz que os manifestantes combatem uma "entranhada elite corrupta que exibe projetos glamurosos como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, mas que ao mesmo tempo falha em prover serviços básicos como educação e saúde".

"Para eles, não é suficiente que a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, tenha sido uma ativista de esquerda presa pelo regime militar durante os anos 70, nem que seja líder do progressista Partido dos Trabalhadores. Aos olhos deles (manifestantes) o partido foi sugado pelo "sistema" corrupto como revelado por recente escândalo de compra de votos".

Ao lembrar que diferentes instituições vêm quantificando o avanço das classes médias - que devem chegar a 4,9 bilhões de pessoas até 2030, ou metade da população global - Fukuyama lembra que este grupo precisa ser definido por também por educação, ocupação, posses de bens e comportamento político, para além dos clássicos parâmetros de renda.

"Um grande número de estudos (...) mostra que níveis mais altos de educação estão correlacionados a uma maior valorização da democracia, liberdade individual e tolerância com modos de vida alternativos", diz.

Ele cita ainda que famílias que têm imóvel próprio e passam a recolher impostos tendem a pedir mais clareza em relação às contas dos governos.

"Status de classe média não significa que um indivíduo automaticamente apoiará a democracia e um governo limpo."

Francis Fukuyama, cientista político

Fukuyama, porém, diferencia o Brasil dos países do Norte da África e Turquia, onde protestos muitas vezes geram respostas repressivas do governo. No Brasil, ele diz, "manifestantes não vão enfrentar forte repressão da presidente Rousseff".

"Ao contrário, o desafio é evitar cooptação no longo prazo pelo sistema arraigado e corrupto. O status de classe média não significa que um indivíduo automaticamente apoiará a democracia e um governo limpo. Principalmente, porque grande parte da antiga classe média no Brasil era empregada do poder público, no qual era dependente de apadrinhamentos e do controle estatal sobre a economia. As classes médias, lá como em países asiáticos como Tailândia e China, deram apoio a governos autoritários quando lhes pareceu que era a melhor maneira de asssegurar seu futuro econômico".

O cientista político afirma que este grupo tanto "poderia fazer parte de uma coalizão de classe-média que quer a reforma do sistema político" para orientá-lo ao atendidmento do público, como também "dissipar suas energias em distrções como políticas de identidade (questões de raça, gênero e outras, do termo em inglês "identity politics") ou se vender ao sistema que dá grandes recompensas aos que se submetem a jogar o jogo".

Muito do desdobramento dos protestos, diz, depende de lideranças.

"A presidente Dilma Rousseff tem uma tremenda oportunidade de usar os levantes para lançar uma reforma sistêmica mais audaciosa", diz. "Até agora, ela tem sido cautelosa sobre o quanto ela quer se livrar do velho sistema, limitada pela sua própria coalizão partidária", observa.

Fukuyama encerra seu artigo afirmando que com baixo crescimento e altíssimas taxas de desemprego entre os jovens, os líderes das economias desenvolvidas não devem pensar que o que está ocorrendo em Istambul ou São Paulo "não pode se passar por aqui".

Fonte: bbc